6 de junho de 2013

Só há inclusão com união verdadeira, José Junior


Não há futuro na infelicidade pessoal provocada pela exclusão. É para somar que o AfroReggae chega a São Paulo, após 20 anos no Rio
O Brasil vive uma oportunidade histórica. Já éramos fortes por sermos mestiços. Agora, reduzimos diferenças econômicas. O país caminha para a inclusão social, e os benefícios disso estão por toda parte.
De uma hora para a outra, pessoas vindas de realidades distantes passaram a dividir o hall do aeroporto e os mesmos produtos no supermercado. Passaram a ter automóveis. Isso é bom. Mas não basta. É preciso ir além. Ir mais fundo.
Não há futuro no apartheid, seja ele social, econômico, racial ou de gênero. Não há futuro na infelicidade pessoal provocada pela exclusão. Essas ideias motivaram a criação, em 1993, do Grupo Cultural AfroReggae e o inspiram até hoje.
O clima no Rio de Janeiro daquele tempo era irrespirável. Violento, preconceituoso, distante. O jornalista Zuenir Ventura foi o primeiro a notar e definiu: "Uma cidade partida". Havia subdivisões. Guerras absurdas por ódios cujos motivos já nem se conhecia mais.
As favelas de Vigário Geral e Parada de Lucas, vizinhas em uma zona de pobreza extrema da cidade, se odiavam. O morador de uma não podia pisar na outra. Por uma atitude de vingança contra um grupo de bandidos, policiais chacinaram 29 inocentes, moradores de Vigário, numa clara demonstração de desprezo. Pessoas foram mortas apenas por serem pretas, pobres e faveladas. A morte mostrava-se real. Chegamos ao fundo do poço.
Era preciso fazer alguma coisa. Cada um corria para um lado. Nós, eu e um grupo de pessoas, corremos para criar um projeto social que fizesse sentido. Surgiu o AfroReggae.
Nascemos com a visão de que a força está em reconhecer o valor da convivência entre diferentes. Está no valor da oportunidade para que o ser humano desenvolva o seu potencial, longe de preconceitos.
Aprendemos que as pessoas se traduzem pelo cotidiano que levam. E muitas realidades estiveram escondidas num Brasil que negava oportunidades para a maioria de seu povo.
Grande parte dos que tiveram no AfroReggae sua segunda chance não conseguiu a primeira na sociedade brasileira. Nosso projeto de reinserção social de egressos do sistema prisional, o Empregabilidade, já deu chance a mais de 1.500 pessoas. Esse é um dos exemplos.
No AfroReggae, não existem pretos, brancos, evangélicos, católicos, umbandistas, gays, lésbicas, travestis, heterossexuais, ex-presidiários ou empresários. No AfroReggae, existe gente, que é vista por seu potencial e por seus princípios.
É com esse mesmo espírito que chegamos a São Paulo, em 2013, quando completamos 20 anos. Trazemos na bagagem histórias, experiências e muito mais maturidade do que quando começamos.
Há certamente uma diferença muito grande entre o Rio de Janeiro e São Paulo. A conformação da cidade, a cultura, as origens diversas do povo que a escolheu para viver. Justamente por entendermos essa complexidade, não queremos ser protagonistas.
O nosso objetivo é apoiar algumas das milhares de iniciativas bem-sucedidas que já existem em São Paulo e agregar nossa experiência no emprego de tecnologias de transformação social.
Em nossa trajetória, a ausência de experiência em alguns momentos foi fundamental para construirmos o nosso caminho sem que estivéssemos presos a "verdades inquestionáveis".
Hoje, conhecemos o caminho. Queremos somar. No campo do trabalho social, dois mais dois é sempre mais do que cinco. Não há inclusão onde não há união. É com gente que o AfroReggae quer mudar o Brasil.

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