25 de junho de 2013

Ciência com fronteiras, Isaac Roitman

24/06/2013

Estamos em plena era da sociedade do conhecimento, em que a produção do saber e a inovação representam o principal fator estratégico para o desenvolvimento social e econômico. Atualmente, cada vez mais o trabalho físico é feito pelas máquinas, e o mental, pelos computadores. No entanto, cabe ao homem a tarefa de ter ideias e ser criativo. Galileu Galilei (1564-1642) é considerado o fundador da ciência moderna. Estabeleceu os alicerces do método científico e da autonomia da pesquisa científica. Rapidamente a ciência moderna espalhou-se pelo planeta.

No Brasil, a ciência é uma atividade recente, foi institucionalizada, em 1950, com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nos últimos 63 anos, tivemos grandes conquistas. Foi criado um sistema modelar de formação de cientistas: os programas de iniciação científica, para estudantes do ensino básico e universitário, que preparam e estimulam um número considerável de jovens para o sistema de pós-graduação. Em algumas áreas, como doenças tropicais e pesquisas agronômicas, estamos na fronteira da ciência mundial. Por seu lado, inovamos pouco e estamos em posição não confortável na obtenção de patentes, em comparação com os países centrais.

Recentemente, foi lançado o Ciências sem Fronteiras, que tem como meta a expansão da ciência e da tecnologia, estimulando a mobilidade internacional. O programa permite o intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágios no exterior. Além disso, busca atrair pesquisadores estrangeiros que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com brasileiros nas áreas prioritárias definidas no programa. Em adição, cria oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam treinamento especializado no exterior. Será importante garantir a empregabilidade e proporcionar condições de trabalho para esse grande contingente de estudantes e profissionais que se aperfeiçoaram no exterior.

O termo "fronteira", utilizado no título deste artigo, se refere a um dos seus significados, o limite, e pretende destacar algumas dimensões que freiam o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. Para termos uma inflexão nessa área, precisamos, urgentemente, garantir um ensino básico de qualidade para todos os jovens brasileiros. Eles representam o futuro e serão os cientistas do amanhã. Sem isso, não teremos capital humano para enfrentar os grandes desafios das próximas décadas.

As agências de fomento necessitam estar em permanente sintonia com as fronteiras da ciência e com as inovações que possam proporcionar uma melhoria da qualidade de vida para toda a sociedade, principalmente por meio das inovações nas tecnologias sociais. É também fundamental que os auxílios à pesquisa sejam adequados e liberados com regularidade. É imperativo que os pesquisadores brasileiros possam trabalhar nas mesmas condições daqueles que desenvolvem pesquisa e inovação em países com tradição em inovação tecnológica. Ou seja, não basta o governo disponibilizar recursos.

Aliás, é um engano associar a nossa pouca inovação somente à falta de recursos. É preciso, acima de tudo, facilitar o uso dos mesmos para importação de insumos e equipamentos, contratação dos melhores profissionais com salários diferenciados, remuneração de acordo com a capacidade científica e, mais importante, sem a interferência demasiada do controle estatal. Uma maneira de acelerar esse processo seria a expansão de institutos de pesquisa financiados pelo poder público com mais autonomia científica e financeira. Os atuais marcos regulatórios, que dificultam a aquisição de insumos e equipamentos, precisam ser urgentemente revisados e simplificados, assim como os marcos que impedem o acesso à biodiversidade.

É também importante eliminar o apartheid entre a universidade e a empresa. Os pesquisadores e as empresas precisam ser parceiros, desenvolvendo projetos de elevados riscos. Sem isso, a qualidade da ciência não melhorará, a inovação tampouco avançará e certamente perderemos a batalha da competitividade. Assim fazendo, poderemos comemorar, no futuro, a conquista do verdadeiro Ciências sem Fronteiras, que colocará o Brasil na vanguarda científica internacional.

Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília, coordenador do Núcleo do Futuro da UnB e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.
(Correio Braziliense, dia 24 de junho de 2013)

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