24 de maio de 2013

Moisés Naím: Procura-se Zuckerberg brasileiro


Folha de S.Paulo, 24/5/2013

O criador do Facebook quer atrair estrangeiros qualificados; o Brasil precisa fazer o mesmo
O Brasil precisa urgentemente de alguém como o fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg. Não para transformar modelos de negócios de modo radical, mas para mudar radicalmente a política imigratória do país, como Zuckerberg está fazendo nos Estados Unidos.
Ele fundou uma organização chamada FWD.US, cujo objetivo é fazer lobby por uma reforma abrangente da imigração. Esse esforço não é desinteressado: uma das metas principais do grupo é facilitar a contratação de estrangeiros nos EUA pelas empresas que o apoiam.
Zuckerberg não é o único a se envolver nessa campanha --ele recrutou uma relação de apoiadores que mais parece uma lista de chamada da realeza do Vale do Silício. Bill Gates e Steve Ballmer, da Microsoft; Eric Schmidt, do Google; e Marissa Mayer, do Yahoo, fazem parte do rol, que também inclui os fundadores e executivos-chefes de LinkedIn, Dropbox, Netflix, YouTube, PayPal, Groupon, Instagram, Zynga e muitas outras empresas de tecnologia.
É provável que eles tenham êxito na empreitada. Dentro em breve será mais fácil para profissionais estrangeiros altamente qualificados trabalharem nos EUA. O Brasil também precisa de uma reforma abrangente da imigração, e com urgência.
Uma pesquisa revelou que 92% dos presidentes de grandes empresas no Brasil citam a falta de profissionais qualificados como obstáculo importante à sua expansão. Conversei com alguns deles e todos apontaram para essa limitação, que pode obrigá-los a reduzir suas metas de crescimento e investimento.
De acordo com a Folha (http://folha.com/no1280061), conseguir visto de trabalho no Brasil é demorado, opaco e incerto e requer o preenchimento de 19 documentos (México e Canadá exigem oito).
Ironicamente, ao mesmo tempo em que o Brasil sofre de uma escassez de profissionais que dificulta seu crescimento, outros países possuem excedente de engenheiros, cientistas e gerentes ansiosos por emigrar.
Portugal (cujos profissionais já falam o português), Espanha e Itália têm altos níveis de desemprego. O mesmo acontece com a Venezuela e a Argentina. Por que não permitir que os melhores desses profissionais trabalhem no Brasil?
O governo já anunciou sua intenção de rever a política imigratória. Mas a boa intenção pode levar tempo para sair do papel. O primeiro passo anunciado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi a criação de uma comissão para fazer recomendações. Como poderia explicar Zuckerberg, mudanças transformadoras nunca nascem de comissões criadas pelo governo.
@moisesnaim

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