24 de maio de 2013

Bônus para policiais



Iniciativa do governo de São Paulo de premiar policiais que reduzam criminalidade deve ser vista sem preconceito, mas ainda precisa ser aperfeiçoada
Frente aos números preocupantes da criminalidade em São Paulo, cujo aspecto mais visível tem sido a frequência dos arrastões em restaurantes --para nada dizer dos episódios na Virada Cultural--, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) apresenta um pacote de medidas contra a violência.
Como não poderia deixar de ser em anúncios do tipo, são iniciativas pontuais. Merecem, assim, mais registro do que debate. É o caso da promessa de novas contratações de policiais.
O ponto mais polêmico, entretanto, surge na ideia de pagar um bônus semestral em dinheiro aos policiais que conseguirem reduzir a criminalidade nos seus setores de atuação.
Para Luís Sapori, ex-secretário-adjunto de Segurança Pública de Minas Gerais, há a possibilidade de que o bônus estimule a maquiagem das estatísticas.
Seria também um absurdo, diz a Associação dos Delegados de São Paulo, premiar o policial por cumprir sua obrigação. Não necessariamente. Em muitas atividades, seja na iniciativa privada, seja na esfera pública, diferencia-se o mero cumprimento de um dever da superação de metas de desempenho fixadas previamente.
Nesse sentido, seria interessante acrescentar aos critérios de avaliação que o decréscimo na criminalidade por região seja acompanhado de uma redução no emprego de violência pelas próprias autoridades. Polícia boa investiga e prende, sem bater nem matar (a não ser em situações extremas).
Com auxílio de organismos técnicos e da sociedade civil, é possível obter indicadores de eficácia da conduta policial que não degradem a política de bônus a uma espécie de caça à recompensa.
Muito menos se trata de substituir a necessidade de que os policiais paulistas tenham remuneração fixa compatível com os extremos riscos a que são submetidos.
Na Polícia Civil, o salário de um delegado paranaense corresponde a mais do que o dobro do vigente em São Paulo. Na Polícia Militar, onde também são grandes as disparidades regionais, o salário de um soldado de segunda classe paulista é de cerca de R$ 2,5 mil. No mais recente edital do Distrito Federal, a remuneração após o curso de formação chegava a R$ 4,3 mil.
Números injustamente desiguais, com certeza, para uma situação de risco que não difere tanto assim de um Estado para outro. De todo modo, é a realidade da violência, e não suas estatísticas, o que mais preocupa; que o governo paulista busque novos modos de articular as duas esferas é algo a ser recebido sem preconceitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário