30 de setembro de 2012

O mais grave dos riscos, por Miriam Leitão


Blog de Ricardo Noblat - 
30.9.2012
 | 17h03m

POLÍTICA

, O Globo

O IBGE revelou uma notícia assustadora, mas não houve reação à altura. O Brasil tem um milhão quatrocentos e quinze mil crianças de 7 a 14 anos oficialmente analfabetas pelo registro da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad). E de 2009 a 2011 caiu — sim, é isso, caiu — o percentual de jovens de 15 a 17 anos na escola. Será que é assim que queremos vencer?
A vastidão da tragédia educacional brasileira não caberia nesta coluna, e arruinaria — querida leitora, caro leitor — este seu domingo. Por isso vamos pensar juntos apenas em alguns números. Fomos informados dias atrás pelo IBGE que em 2009 o Brasil tinha 85,2% de jovens de 15 a 17 anos na escola.
O que equivale a dizer que 14,8% não estavam, e isso já era um absurdo suficiente. Mas em 2011, a Pnad descobriu que o número tinha piorado e agora só há 83,7%. Aumentou para 16,3% o total de jovens nessa faixa crítica que estão fora da escola.
Em qualquer país do mundo, que saiba a natureza do desafio presente, esses números seriam motivo para se fazer um escândalo, iniciar uma investigação, chamar as autoridades à responsabilidade. O ministro se desculparia, os educadores seriam entrevistados para saber como resolver o problema, os contribuintes exigiriam mais respeito com seus impostos, os pais se mobilizariam.
Mas a notícia foi dada numa sopa de outros indicadores e sumiu por lá. Em alguns jornais foi destaque, em outros, nem isso.
Como assim que em 2012 o país fica sabendo que tem menos — e não mais — jovens onde eles deveriam estar? E mesmo assim não se assusta, não reage? Difícil saber o que é pior: se a notícia em si ou a falta de reação diante da notícia.
Os demógrafos já nos informaram que estão nascendo menos brasileiros, e que, por isso, a população vai parar de crescer. Os empresários estão dizendo que há um apagão de mão de obra, falta trabalhador qualificado.
Nem que seja por uma mera questão econômica, de formação de trabalhadores, o país deveria exigir explicação das autoridades. Afinal, estamos jogando fora cérebros que serão necessários à economia.
Mas a educação, evidentemente, não é só para formação de trabalhadores, como se fossem peças de uma máquina. É a única estrada que leva as pessoas à realização do seu potencial, a única forma de realmente incluir o cidadão, a melhor maneira de fortalecer a democracia.
A taxa de analfabetismo no Brasil é considerada a partir de 15 anos. Com esse recorte etário, a taxa foi de 8,6% em 2011. Uma melhora em relação a 2009, quando era de 9,7%. Com mais de 15 anos temos 12,9 milhões de analfabetos.
Mas se formos considerar quem não está na conta — os de 7 a 14 anos — existem mais 1,4 milhão de analfabetos. O problema desse número é que ele derrota a ideia de que o analfabetismo é um problema herdado pelos erros passados do Brasil. De fato, ele é maior quanto mais alta for a idade. Mas esses dados mostram que o país está repetindo agora o mesmo desatino. Há analfabetos jovens, hoje. Meio milhão deles estão na área rural. Aliás a taxa de analfabetismo rural brasileiro é de 21%.
Eu queria não estragar o domingo de você que me lê. Então vamos concluir assim: ainda há tempo. Se o Brasil se apressar, pode correr atrás dos ainda analfabetos. Pode tentar trazer de volta os jovens que desistiram da escola.
Alguns mais céticos dirão que não há mais tempo e o cérebro não educado na infância jamais terá de volta a habilidade necessária. São tantos os casos de superação.
É quase tarde demais, mas ainda há tempo. Se o Brasil não se apressar esses jovens continuarão em seu desamparo.

O silêncio, por Luis Fernando Veríssimo


Blog de Noblat
A substituição da máquina de escrever pelo computador não afetou muito o que se escreve. Quer dizer, existe toda uma geração de escritores que nunca viram um tabulador (que, confesso, eu nunca soube bem para o que servia) e uma literatura pontocom que já tem até os seus mitos, mas mesmo num processador de texto de último tipo ainda é a mesma velha história, a mesma luta por amor e glória botando uma palavra depois da outra com um mínimo de coerência, como no tempo da pena de ganso.
O novo vocabulário da comunicação entre micreiros, feito de abreviações esotéricas e ícones, pode ser um desafio para os não iniciados, mas o que se escreve com ele não mudou. Mudaram, isto sim, os entornos da literatura.
Por exemplo: não existem mais originais. Os velhos manuscritos corrigidos, com as impressões digitais, por assim dizer, do escritor, hoje são coisas do passado: com o computador só existe versão final. O processo da criação foi engolido, não sobram vestígios. Só se vê a sala do parto depois que enxugaram o sangue e guardaram os ferros.
Nos jornais, o efeito do computador foi muito maior do que o fim da lauda rabiscada e da prova de paquê. O computador restabeleceu o que não existia nas redações desde — bem, desde as penas de ganso. O silêncio.
Um dia alguém ainda vai escrever um tratado sobre as consequências para o jornalismo mundial da substituição do metralhar das máquinas de escrever pelo leve clicar dos teclados dos micros, que transformou as redações, de fábricas em claustros.
A desnecessidade do grito para se fazer ouvir e a perda da identificação do seu ofício com um barulhento trabalho braçal mudou o caráter do jornalista. Se para melhor ou para pior, é discutível.
Defendo, sem muita convicção, a tese de que a mudança da máquina de escrever para o computador também determinou uma migração da esquerda para a direita nas redações brasileiras. Se hoje não vale mais a velha máxima de que jornalista era de esquerda até o nível de redator chefe e de direita daí para cima, a culpa é da informatização. A nova direita é filha do silêncio.
Mas é no futuro que a troca do bom preto no branco pelo impulso eletrônico e o texto virtual fará a maior confusão.
A internet está cheia de textos apócrifos, inclusive alguns atribuídos a mim pelos quais recebo xingamentos (e tento explicar que não são meus) e elogios (que aceito, resignado), contra os quais nada pode ser feito e que, desconfio, sobreviverão enquanto tudo que os pobres autores deixarem feito por meios obsoletos virará cinza e será esquecido. Nossa posteridade será eletrônica e, do jeito que vai, será fatalmente de outro.

Avanço do emprego deixou para trás mulheres, jovens e trabalhadores sem qualificação


RIO e RECIFE - Larissa Maria, de 18 anos, procura emprego. Mas, sem sequer ter concluído o nível médio, não consegue. Vai, então, vivendo de biscate para sustentar a filha. Carteira assinada? Ainda um sonho. Larissa — mulher, jovem, negra, pouca formação, sem experiência — dá o tom do desemprego brasileiro: é feminino.
Os anos recentes de crescimento econômico ainda não foram fortes o suficiente para quebrar o padrão do mercado de trabalho do país — que dá preferência ao homem em detrimento à mulher. Só que são as jovens, como Larissa, as maiores vítimas dessa desigualdade que persiste no país.
Um fenômeno mundial
Os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que traz o maior retrato do mercado do trabalho do país, mostram isso. Dentro da taxa média de desocupação, de 6,7% em 2011, a distância entre homens e mulheres aparece. As taxas são, respectivamente, de 4,9% para eles — quase pleno emprego — e 9,1% para elas. Entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, a desigualdade fica mais expressiva. Os rapazes têm taxa de desemprego de 10,6%. Elevada, contudo, bem menos que os 18% da taxa das moças. Mas já foi pior: há 10 anos, a taxa delas era de 21,5%. E eles amargavam um desemprego de 13,7%.
— O mercado de trabalho avançou, mas não conseguiu beneficiar a todos. E ainda impôs barreiras. Formação ruim é o que deixou muito jovem pra trás — diz Cimar Azeredo, do IBGE.
Não à toa, portanto, Larissa decidiu agir por conta própria, para garantir o próprio sustento: faz serviço de manicure em domicílio.
— Quando menor, procurei estágio. Consegui por meio salário mínimo. Era muito pouco e desisti de ficar lá — conta.
Como a desigualdade se sustenta no país onde as mulheres têm escolaridade maior do que a dos homens (7,5 anos contra 7,1)? Mesmo entre os mais jovens, de 18 anos ou mais, elas passam mais tempo na escola — 7,9 anos contra 7,5. Boa parte dessa resposta está no preconceito ainda vivo do mercado de trabalho brasileiro, avalia Rebecca Reichmann Tavares, Representante e Diretora Regional da ONU Mulheres (braço das Nações Unidas para igualdade de gêneros) no Brasil e Cone Sul:
— O preconceito explica parte da distância entre a desocupação de homens e mulheres, além da desigualdade dos rendimentos. Mas esse quadro não é um fenômeno brasileiro, é mundial. Num estudo com 187 países, o país ocupa a 84ª colocação no ranking de desigualdade de gênero. O Brasil não está fora da curva, mas isso não deve ser motivo para não fazer nada. Apenas as leis conseguem se sobrepor a valores culturais. Esse foi o caminho de países do Norte da Europa que adotaram, por exemplo, cotas para mulheres.
Segundo Cláudio Dedecca, professor da Unicamp, a força física é um atributo que ainda tira oportunidades das mulheres, especialmente quando se fala no mercado de trabalho longe dos grandes centros e de setores como construção civil e agricultura.
— O desemprego atinge estruturalmente mais a mulher. A preferência é do homem porque tem a vantagem, do ponto de vista do empregador, de não ter licença maternidade ou de não ser o cuidador oficial dos filhos. Mas esse padrão de contratação masculina tende a se retrair com um crescimento mais sustentado da economia. O desafio é acelerar o crescimento — afirma Dedecca.
Menos empregadas
Há especialistas que defendem que as mulheres ocupam, tradicionalmente, cargos de menor remuneração. Mas Rebecca refuta a justificativa:
— Muitas mulheres estão em funções de menor ganho, sim. Mas, ainda assim, em funções similares, pesquisas já mostraram que as mulheres ganham menos.
A Pnad mostrou, entretanto, avanços. O emprego doméstico já não é mais a ocupação número um das mulheres. Agora, há mais mulheres ocupadas no comércio (6,6 milhões) do que empregadas domésticas (6,1 milhões).
— À medida que o país se desenvolve, o emprego doméstico se torna menos expressivo. Com mais formação, a mulher pode escolher, e não quer mais ser empregada. É um cenário positivo — diz Miguel Foguel, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
*Colaborou Letícia Lins

School Reformers Who Disagree Find Common Ground (John Thompson and Neerav Kingsland) by larrycuban


The following post was written by teacher John Thompson of Oklahoma City  and Neerav Kingsland, CEO of New Schools for New Orleans. They introduce themselves below. The post was published by Rick Hess, a blogger for Education Week on September 21, 2012.
 There is much we disagree on - don't worry we'll get to that. But in writing this joint post we hope to flesh out some common beliefs that unite two very different people - and, perhaps, two different wings of current education debates. The recent events in Chicago make very clear that there is a great divide between different factions of reform and that this divide continues to greatly impact children. We hope that this divide need not be permanent - and that a common agenda may be found between different reform camps. At the very least, we have found common ground where few would have expected.

Some Background on Us
I (John) taught and participated in whole school and district-wide reforms in the Oklahoma City Public School System (which is 90% low income). On the eve of No Child Left Behind (NCLB), I served on the steering committee of a bipartisan reform effort that was a down home version of the Broader, Bolder Approach -- and was a team member of a school that was improving faster than any other high school in the district. I blame NCLB for wrecking our promising community-wide school improvement effort, driving hundreds of students out of my school, and turning it into the lowest performing school in the state.
I (Neerav) am the CEO of New Schools for New Orleans (NSNO), which launches and scales charter operators and human capital organizations. NSNO has been an accelerator of the New Orleans reform efforts - which has led to over 80% of New Orleans students attending charter schools. I (Neerav) blame local government monopolies for taking power away from educators and parents - as well as for operating stagnant school systems that fail to harness entrepreneurship, innovation, and competition.
Where We Agree
We agree that top-down, command and control governance, has failed. And that it will continue to fail regardless of the talents of the elites who run these systems. Technocratic reformers will never be able to design enough "transformational policies" to solve the complex problems facing families, educators, and communities. We are against: district-wide curriculum mandates, legislatively enforced teacher evaluation systems, and personnel decisions driven by central office bureaucrats. We've each seen some of our generation's greatest minds seduced by the idea that "if I'm in power, I'll be able to fix this."
It's hard to overstate the importance of this agreement: a "labor activist progressive" and a "Relinquisher" both feel that the much of the current reform movement is extremely misguided. And we both point to overreaching bureaucratic elites as the source of the problem - even if we sympathize with their intentions and are hopeful that they succeed in increasing student learning.
Where We Somewhat Disagree: How to Empower Educators
We agree on the problem, but our solutions take somewhat different paths. In short, where we agree and, yet, start to disagree is with school autonomy. Both of us are for it - but in different ways.
I (John) steadfastly oppose vouchers and worry about charter chains (CMOs). I never criticize charters. I've always celebrated when my students get into charters, magnets, or (below the radar) get into suburban schools. I believe that the safest way to gain the benefits of autonomy can be through "enterprise schools," or neighborhood schools that are granted autonomy. These schools should be governed by "thin contracts" that allow for collective bargaining agreements but do not restrict the operational autonomy of school site decision making for educators.
I (Neerav) believe that true autonomy can only be achieved by government relinquishing its power of school operation. I believe that well regulated charter and voucher markets - that provide educators with public funds to operate their own schools - will outperform all other vehicles of autonomy in the long-run. In short, autonomy must be real autonomy: government operated schools that allow "site level decision making" feels more Orwellian than empowering - if we believe educators should run schools, let's let them run schools.
Where We Really Disagree: Standardized Testing
Our biggest disagreement is all about standardized testing. The gulf here is significant but not as wide as one might think...
I (John) have mixed feeling about graduation examinations, but they are state mandates ratified by the voters. Educators should not impose high stakes standardized tests without the consent of educators and students. Choice schools, whether they are charters or enterprise schools, should be free to use high stakes tests if they choose. Educators in those schools, however, should stand with their colleagues and oppose such testing in neighborhood schools. We should unite in condemning value-added evaluations that are likely to increase primitive test prep and drive teaching talent out of schools where it is harder to raise test scores.
I (Neerav) am very conflicted about standardized testing. The libertarian in me just wants to give parents choice, provide them with a lot of information, and let the market work itself out. The pragmatist in me is familiar with the research on parents being unaware of the poor performance of schools to which they claim deep allegiance. I also have mixed feelings about annual high stakes testing (compared to once every couple of years) - which I worry (a) forces schools to shallowly cover grade level material and (b) is at odds with personalized learning. That being said, I feel that the near term costs to student achievement would be high if we eliminated testing - but am very open to the idea that long-term testing mania may have deleterious educational effects. So, for now, I'm on board.
A Not Quite Manifesto
To sum it all up: we agree that the progressive labor movement and Relinquishers should unite in support of the areas where we find common ground. We enthusiastically welcome all allies in liberating educators and schools from top-down management. And we feel that ideological blinders continue to prevent educators from supporting all forms of autonomy. Yes, we disagree on the structure of autonomy and standardized testing - but both of us are aware of the risks of our preferred approaches - and neither of us vilifies the other for his beliefs.
The outcome of current educational debates will affect the happiness and prosperity of the future adults of our nation. The stakes are high.
So let us end with this:
We believe that educator empowerment - in some form or another - must be the North Star of reform efforts.
We believe that the coalition in support of educator empowerment can cross political, ideological, and geographical lines.
And we believe that the coalition around education empowerment should air its disagreements on crucial issues - but that these issues should (for now) take a back seat to educator empowerment.
And we encourage you both to visit Oklahoma City and New Orleans. They are truly wonderful places.

Oportunidade perdida, por Merval Pereira


Merval Per, O Globo
A “maldição do petróleo”, fenômeno registrado nas principais economias produtoras do mundo, já está presente nas cidades brasileiras mais beneficiadas pelos royalties e pelas participações especiais.
A Macroplan, empresa de consultoria especializada em estratégia e cenários de longo prazo, concluiu uma pesquisa focada na qualidade da gestão das 25 cidades que recebem 70% daqueles recursos.
Ao longo de uma década, 2000-2010, as cidades do chamado “arco do petróleo” no Sudeste (16 do Estado do Rio, cinco do Espírito Santo e quatro de São Paulo), receberam um total de R$ 27 bilhões.
O estudo ressalta que, ao mesmo tempo que os municípios vivem seu melhor momento econômico, com aumento considerável do Produto Interno Bruto (PIB), quase todos não experimentam melhorias significativas nos principais indicadores sociais.
O PIB, em 18 das 25 das cidades estudadas, cresceu mais do que o Produto de seus respectivos estados, mas a qualidade de vida dos seus habitantes não acompanhou esse crescimento.
Outra conclusão mais geral dos analistas da Macroplan foi o vigoroso crescimento demográfico com a consequente, e até esperada, pressão por acesso a serviços públicos — principalmente saneamento, saúde e educação —, que veio turvar o caminho do desenvolvimento com efeitos colaterais perversos — a deterioração urbanística, o aumento no número de trabalhadores informais, a má distribuição de renda, entre outros.
A vasta maioria dos municípios — cerca de 88% deles — registrou crescimento demográfico superior ao de seus estados e, em quase a metade das cidades pesquisadas, houve aumento no número de pessoas vivendo em habitações subnormais, entre 2000 e 2010, sendo que nove delas tiveram um crescimento maior que 100% nesse indicador.
A face mais cruel do empobrecimento da população se exibe no crescimento dos indicadores de (in)segurança: 13 das 25 cidades têm taxas de homicídio acima das respectivas médias estaduais, sendo que quatro delas figuram entre as cem mais violentas do país (Búzios, Cabo Frio, Linhares e Paraty).
No terreno da educação, apesar do desempenho no país ter melhorado, de acordo com o Índice da Educação Básica (Ideb) deste ano, os esforços para avançar nos municípios pesquisados pela Macroplan conseguiram produzir apenas pequenas mudanças nos anos iniciais do ensino fundamental.
Alguns chegaram a registrar queda do Ideb na década estudada, entre eles, São João da Barra, Silva Jardim e Cachoeiras de Macacu — todos no Estado do Rio. E a taxa de analfabetismo entre pessoas com mais de 15 anos, medida pelo Censo de 2010, mostrou, em 20 das 25 cidades, patamar mais elevado que o de seus respectivos estados.
Mas o que é feito, afinal, com o dinheiro do petróleo? O grande problema dessas cidades, na conclusão do estudo, reside na baixa qualidade da gestão. “Nenhuma cidade elaborou e seguiu planos de longo prazo, traduzidos em projetos estruturantes, para o emprego dos royalties e muito menos para a eventualidade de flutuações cíclicas ou declínio permanente, nem modelos de gestão inovadores”, observou o diretor da consultoria e um dos coordenadores do estudo, Glaucio Neves.
Semelhança verificada nas cidades que passaram a contar com esses recursos é o aumento do peso da máquina pública. No conjunto dos 25 municípios, houve incremento de 74% no emprego na administração pública, mais do dobro da média brasileira.
Entre 2003 e 2010, as despesas de pessoal e as demais de custeio do conjunto dos municípios analisados dobraram, em termos reais, enquanto os investimentos só cresceram 24%.
Apesar do aumento do número de empregos públicos formais, a taxa de desemprego é elevada nessas cidades: 64% delas apresentaram, em 2010, taxa de desemprego maior do que a média brasileira.
Em 2010, em 17 dos 25 municípios, o percentual de pessoas na condição de pobreza extrema era mais alto do que a média dos estados: 41 mil pessoas apresentavam renda inferior a R$ 70, e quase 200 mil, renda inferior a R$ 127 mensais.
E, como mostra a pesquisa, para erradicar a pobreza extrema nessas cidades no ano de 2010 seria necessário menos de 1% do volume anual de royalties e participação especial transferido para esses municípios.

A lesson in teaching from the grassroots by Andreas Schleicher



Deputy Director for Education and Special Advisor on Education Policy to the OECD's Secretary General

I was in London last week to give a talk on “how to transform 10,000 classrooms” at the annual Teach First/Teach for All conference in London. Some 3,000 teachers and social entrepreneurs from around the world gathered there to discuss ways to re-invent and strengthen the teaching profession. The aspiration of the organisations under the Teach for All umbrella is to enlist promising future leaders from across academic disciplines and careers to teach at least two years in high-need schools and become lifelong promoters of educational quality and equity.

The enthusiasm, commitment and growing professionalism of these grassroots organisations was inspiring. I heard many stories of people who had left successful careers to join the teaching force in order to make a significant impact on the lives of disadvantaged children. In some countries, participation levels have reached the critical mass to have a transformative impact on student achievement, and have made the success of this work both scalable and sustainable. Wendy Kopp, who co-founded Teach for America 22 years ago, recounted the evolution of her organisation from a small group of friends to one that reaches more than 750,000 students. In New Orleans, 25% of teachers are now from Teach for America. In the UK, too, Teach First is now the third largest recruiter of graduates and reaches over 150,000 children.

Still more impressive were the stories told by the young participants who had designed and were delivering intensive training courses for 400 teachers per year in Nigeria – a country with an essentially non-existent teacher-training infrastructure; and a participant from China shared how she was collaborating with local governments to build urgently needed teaching capacity in remote rural areas.

Critics of these organisations maintain that there is just no alternative to the traditional route of undergraduate studies, teacher training and then a career in the classroom. But those critics may simply underestimate the potential for creativity in the field of education that this combination of talent, passion and experience represents. The fact that, in many countries, these programmes are now so attractive that they can recruit the most promising candidates, even where the general status of the teaching profession is in decline, speaks for itself. We should also not overlook the rapid professionalisation of these organisations, which combine intensive initial training, ongoing support, and a work environment in which teachers work together to create good practice. They also offer intelligent pathways for teachers to grow in their careers, and support teachers in their efforts to find innovative ways of teaching.

What struck me most is the vision of social transformation behind all this work – extending from teacher leadership through school leadership, policy and political leadership, up to community organisation. The work of these organisations can complement the OECD’s efforts to design and implement policies by challenging the teaching profession and education systems from within. We should do what we can to engage with them.

MARCELO GLEISER A terceira Revolução Copernicana


Folha de S.Paulo, 30/09/2012

Revoluções como as de Copérnico tiraram a centralidade da Terra e da Via Láctea no Universo

QUANDO, EM 1917, Einstein propôs o primeiro modelo cosmológico da era moderna, não havia qualquer razão para supor que o Universo teria um começo. Tudo indicava que o Universo era estático e infinitamente velho, sem um início.
Tudo indicava também que a Via Láctea era tudo o que existia. Outras "nebulosas", vistas com telescópios, eram supostamente parte dela. Para além da Via Láctea, o Cosmo se estendia pela escura vastidão infinita do espaço vazio.
Em menos de uma década, porém, tudo iria mudar. Para o horror da maioria dos cientistas, o Cosmo ganhou uma história, que, ao menos qualitativamente, lembrava o "Faça-se a Luz!" bíblico.
Numa sucessão de observações sensacionais, graças a um telescópio de cem polegadas e uma metodologia impecável, o astrônomo americano Edwin Hubble e seu assistente Milton Humason determinaram, em 1924, que a Via Láctea era apenas uma entre "centenas de milhares" de outras galáxias.
Hoje, sabemos que existem centenas de bilhões de galáxias. Após Hubble, a imagem da distribuição da matéria pelo espaço mudou completamente: não havia mais um "centro", a Via Láctea, mas um enorme número de núcleos. De certa forma, a descoberta foi uma versão moderna da Revolução Copernicana, visto que foi nela que a Terra perdeu sua centralidade.
Como se isso não bastasse, em 1929, Hubble e Humason demonstraram que as galáxias se afastavam umas das outras. A conclusão, ainda mais chocante, inclusive para Einstein, era a de que o Universo não era estático, mas estava em expansão. Com isso, o Cosmo ganhou uma história: voltando no tempo, haveria um momento no qual as galáxias estavam amontoadas, o momento da "criação".
Se Hubble estivesse certo, a cosmologia se tornava mítica, colocando-a próxima das questões religiosas: se o Universo tem uma história, como ela começou? "Quem" a começou? Por que ela começou?
A situação tornou-se ainda mais interessante quando, em 1927, o padre-cosmólogo belga Georges Lemaître propôs que o Universo surgiu da desintegração espontânea de um gigantesco átomo primordial.
Lemaître inventou um modelo científico da "criação", mesmo se insistisse que não havia qualquer relação com a Bíblia. Mas a associação era inevitável. Ninguém prestou, ou quis prestar, atenção nas ideias de Lemaître até que Hubble descobriu a expansão.
Desde então, a cosmologia vem se debatendo com a questão do "início" de tudo. Em 1948, três ingleses sugeriram uma alternativa, o "modelo do estado padrão", no qual o Cosmos não teria um começo: por toda a eternidade, a matéria era criada na mesma proporção em que se diluía devido à expansão.
Porém, nos anos 1960, o modelo rival do Big Bang é que foi verificado por observações. Tudo indica que ao menos nossa etapa cósmica surgiu mesmo de um evento inicial.
Mas e se nosso Universo não for único, mas parte de um multiverso, esse sim eterno? Modelos atuais pressupõem que seja esse o caso, que o multiverso existe eternamente e que o nosso existe entre incontáveis outros. Seria a terceira Revolução Copernicana, agora removendo a centralidade do Universo.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita".

Falta de acordo barra regulação da internet


Projeto enviado pelo governo ao Congresso em 2009 está pronto para votação na Câmara há mais de três meses



Principal polêmica está no artigo que prevê modernização para que usuários tenham mesmo padrão de velocidadeGABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA, Folha de S.Paulo, 30/09/2012

A falta de acordo sobre o texto final do Marco Civil da internet impede a votação do projeto na Câmara.
Enviada pelo Executivo ao Congresso em 2009, a proposta estabelece regras para o uso da internet no Brasil e está pronta para ser votada na comissão especial da Casa há mais de três meses.
A principal polêmica é o artigo que determina a chamada "neutralidade da rede" na internet. A norma obriga as provedoras de acesso a tratar de forma igual todo pacote de dados da rede. Na prática, isso obriga a modernização da transmissão de dados para que os usuários acessem qualquer site com a mesma velocidade ou qualidade.
As teles, proprietárias da maioria dos provedores de acesso à internet no Brasil, argumentam que o investimento técnico é muito alto.
Uma alternativa seria priorizar o tráfego de dados dos sites que pagarem pelo acesso mais rápido, mas o governo é contra.
"Internet é velocidade. Se um site está lento, você desiste e vai para o outro. Então, não se pode pagar para que o seu site esteja mais rápido que outro", disse o relator do projeto, deputado Alessandro Molon (PT-RJ).
Se houver acordo e o texto for aprovado na comissão, segue direto para o plenário. "Tem que se achar um equilíbrio", disse o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
O SindiTelebrasil, sindicato que responde pelas teles, critica o artigo da "neutralidade" ao argumentar que serviços diferenciados são necessários à rede.
Em seminário realizado na semana passada, o presidente do sindicato comparou a internet com os Correios.
"Os Correios são neutros com as cartas que enviamos. Mas se alguém quiser mandar um documento mais rápido, ele tem o Sedex", disse Eduardo Levy.
Outro impasse está na escolha do órgão que será responsável para regulamentar a neutralidade da rede. Pelo projeto, ela deveria ocorrer por meio de decreto do governo, ouvidas as recomendações do CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) -que é composto por 21 representantes de segmentos da telefonia.
A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e o Ministério das Comunicações defendem que o controle esteja nas mãos da agência, enquanto o relator argumenta que o comitê tem mais isenção.
APOIO
O projeto tem o apoio dos principais provedores de conteúdo, especialmente por isentá-los de responsabilidades civis sobre o que for postado pelos internautas.
O Facebook, Google e Mercado Livre divulgaram nota em apoio à aprovação.
O texto em tramitação na Câmara diz que os provedores só podem responder por algo postado pelos usuários se, após ordem judicial, não tirarem o conteúdo do ar.
Esse foi o caso do diretor-geral do Google no Brasil, Fabio José Silva Coelho, preso na última quarta-feira por descumprir ordem da Justiça para retirar do ar vídeos com ataques a um candidato a prefeito de Campo Grande.
Colaborou ERICH DECAT, de Brasília

Rumo ao retrocesso - THOMAS FRIEDMAN

O que importa é o que eles
dizem a si mesmos, em sua
própria língua, sobre o que
defendem e que excessos
não vão tolerar


Uma das leis de ferro da política do Oriente Médio para o último meio século tem sido que os extremistas percorrem todo o caminho e os moderados tendem a desistir. Isso é o que fez das manifestações em Benghazi, na Líbia, tão incomuns na última sextafeira. Desta vez, os moderados não foram embora. Eles se reuniram e invadiram a sede da milícia islamista Ansar al-Sharia, cujos membros são suspeitos de realizar os ataques contra o consulado dos EUA em Benghazi que resultaram na morte de quatro americanos, incluindo o embaixador Christopher Stevens.

Não está claro se esta tendência pode se espalhar ou ser mantida. Mas, tendo condenado as vozes de intolerância que tantas vezes intimidam a todos na região, penso que é reconfortante ver os líbios carregando cartazes como “Queremos justiça para Chris“ e “Não mais al-Qaeda” — e exigindo a debandada das milícias armadas. Isso coincide com alguns artigos honestamente brutais na imprensa árabe/muçulmana — em resposta ao levante desencadeado pelo vídeo idiota no YouTube insultando o profeta Maomé — que não são os costumeiros “O que há de errado com os EUA?”, mas, sim, “O que há de errado conosco, e como podemos consertar?”

Na segunda, o Instituto de Pesquisa de Imprensa do Oriente Médio, ou Memri, que monitora a imprensa árabe/ muçulmana, traduziu uma crítica abrasadora/lancinante de Imad al- Din Hussein, colunista do “al-Shorouk“, o melhor jornal do Cairo: “Nós amaldiçoamos o Ocidente dia e noite, e criticamos sua desintegração (moral) e desfaçatez, enquanto contamos com ele para tudo... Nós importamos, a maioria do Ocidente, carros, trens, aeronaves... geladeiras, e máquinas de lavar... Nós somos a nação que não contribui com nada para a civilização na época atual... Nós nos tornamos um fardo para (outras) nações... Se tivéssemos realmente implementado a essência das diretivas do Islã e todas as (outras) religiões, estaríamos na vanguarda das nações. O mundo nos respeitará quando voltarmos a ser pessoas que fazem parte da civilização, no lugar de parasitas que estão espalhados pelo mapa do mundo desenvolvido, se alimentando de sua produção e depois atacando-o de manhã até a noite... O Ocidente não é um oásis de idealismo. Ele também contém exploração em muitas áreas. Mas ao menos não está afundado em desilusões, trivialidades e aparências externas, como nós... Portanto, apoiar o Islã e o profeta dos muçulmanos deveria ser feito pelo trabalho, produção, valores e cultura, não pela invasão de embaixadas e assassinato de diplomatas.”

Mohammad Taqi, um colunista paquistanês liberal, escrevendo no jornal “Daily Times”, baseado em Lahore, no dia 20 de setembro, argumentou que “não há qualquer desculpa para a violência e o assassinato mais sujo, cometido em Benghazi. Combater o ódio com o ódio é certeza de gerar mais ódio. O caminho para sair é afogar as vozes odiosas com vozes de sanidade, não cortar a liberdade de expressão e solicitar assassinatos”.

Khaled al-Hroub, professor da Universidade de Cambridge, escrevendo no “al-Dustour” da Jordânia, no dia 17 de setembro, traduzido pelo Memri, argumentou que o “aspecto mais assustador do que vemos hoje nas ruas de cidades árabes e islâmicas é o desastre do extremismo que está inundando nossas sociedades e culturas, assim como nosso comportamento... Isso (representa) uma total atrofia de pensamento entre amplos setores (da sociedade), como resultado da cultura de fanatismo religioso que foi imposta sobre as pessoas nos últimos 50 anos, e que deu à luz o que testemunhamos” hoje.

O comediante egípcio Bassem Youssef escreveu no “al-Shorouk”, traduzido pelo Memri, no dia 23 de setembro: “Nós exigimos que o mundo respeite nossos sentimentos, ainda que nós não respeitemos os sentimentos dos outros. Nós gritamos com clamor apaixonado quando proíbem o niqab em alguns países europeus ou proíbem (muçulmanos) de construir minaretes em outros países (europeus) — mesmo que estes países continuem a permitir a liberdade religiosa, como expresso na construção de mesquitas e nas (atividades) de pregação que ocorrem nos pátios. Ainda assim, em nossos países, nós não permitimos que outros preguem publicamente suas crenças. Talvez devamos examinar a nós mesmos antes (de criticar) os outros.”

Todas as vezes em que fui questionado durante a guerra do Iraque (“Como você vai saber quando ganhamos?”) dei a mesma resposta: Quando Salman Rushdie puder dar uma palestra em Bagdá; quando houver liberdade de expressão real no coração do mundo árabe muçulmano. Não há dúvida de que precisamos respeitar o diálogo entre o Islã e o Ocidente, mas, ainda mais, precisamos respeitar o diálogo entre muçulmanos e muçulmanos.

O que importa não é o que os partidos políticos muçulmanos árabes e grupos nos dizem que defendem. O que importa é o que eles dizem a si mesmos, em sua própria língua, sobre o que defendem e que excessos não vão tolerar.

Este debate interno tem sido sufocado por autocratas árabes cujos regimes tradicionalmente suprimiram os partidos extremistas islamistas, mas nunca permitiram realmente que suas ideias fossem combatidas com liberdade de expressão — com interpretações independentes, modernistas e progressistas do Islã ou por partidos políticos seculares e instituições verdadeiramente legítimas. Estamos vendo o começo disso agora com a emergência de espaços livres e partidos legítimos no mundo árabe? De novo, muito cedo para dizer, mas esta reação moderada à reação extremista vale ser saudada — e observada.

Thomas Friedman é colunista do “The New York Times”

O GLOBO
29/09/2012

Violência contra jovens negros em pauta

Voltar
 

 
21 de Setembro de 2012 | Portal Meio Norte | Brasil | Piauí
 
O Brasil ocupa lugar de destaque em um ranking nada glamoroso: é o quarto colocado, entre 92 países, na taxa de homicídios entre crianças e adolescentes, segundo dados do Mapa da Violência 2012: Crianças e Adolescentes do Brasil.(FLACSO/CEBELA)

Um olhar mais atento sobre este número, combinado a uma análise do Mapa da Violência 2012: os novos padrões da violência homicida no Brasil, revela uma realidade que envergonha: são os jovens negros os que mais morrem no país. Em 2010, 49.932 pessoas morreram vítimas de homicídios no Brasil. Deste total, 26.854 eram jovens, a maioria (74,6%) negra e do sexo masculino (91,3%). De 2000 a 2009, a diferença entre jovens brancos e negros, vítimas de homicídios, saltou de 4.807 para 12.190 mortes.

Preocupada com a questão, a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) lançou semana passada uma carta compromisso em que propõe aos candidatos às eleições municipais incluir na lista de prioridades a questão da juventude negra no país. Segundo o Conen, o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, apresentando números de morte por arma de fogo que superam Iraque, Israel, Palestina, Colômbia, Afeganistão, Sudão e Paquistão juntos, de acordo com dados de 2004 a 2007. A diferença, como explica a Coordenação Nacional, é que, ao contrário destes países, nós não vivemos em uma guerra civil.

A carta da Conen aponta diretrizes fundamentais para todo e qualquer comprometimento com a causa das políticas públicas voltadas à juventude negra. A intenção é que os candidatos às eleições se mobilizem para ações públicas mais eficazes contra a violência, em articulação com o Estado, movimentos sociais e toda a sociedade civil.

Além da campanha, o governo federal já está finalizando o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Juventude Negra, com previsão de lançamento para novembro. O Plano é ação articulada da Secretaria de Direitos Humanos com a Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).

A violência contra a juventude negra é tema que entrou na pauta da cena pública em 2007, quando o Fórum Nacional da Juventude Negra (Fonajune) lançou a campanha nacional “Contra o Genocídio da Juventude Negra”. Considerando a urgência da questão em vista do grande número de violências sentidas e vivenciadas todos os dias, um espaço de luta por políticas públicas para a juventude negra é cada vez mais necessário.

O Plano pretende atuar em quatro frentes: desconstrução da cultura da violência; inclusão e garantia de direitos; transformação de territórios; e aperfeiçoamento das instituições, onde se pretende ações diversas – campanha de sensibilização; formação de jovens agentes da paz; ampliação do programa Escola Aberta; promoção de usinas culturais; formação de servidores públicos e agentes de segurança; enfrentamento do racismo em instituições; dentre outros.

A secretária adjunta da Secretaria Nacional de Juventude, Ângela Guimarães, chama atenção para o fato de as políticas públicas voltadas à juventude negra ainda não ocuparem lugar de prioridade nos programas dos candidatos às eleições. Embora seja um forte tema às vésperas das eleições, Guimarães questiona a falta de visibilidade nos discursos municipais. Explica que ainda que o Estado faça uma leitura mais consciente da questão com o novo Plano, e tome pela primeira vez essa pauta como sua, os estados e municípios precisam estar mais envolvidos no processo para que consigam de fato ser coerentes.

Representando o Conselho Nacional de Juventude (Conjune), a secretária relatou ainda que a violência contra a juventude negra passa por três condicionantes que precisam de atenção urgente: raça, gênero e território. Determinadas localidades que historicamente foram menos assistidas e tiveram menor presença do Estado em aspectos de infraestrutura sofrem com os altos índices de violência, afirma.

Uma campanha para desconstruir os esteriótipos sobre juventude, e sobre juventude negra, será inciada em novembro com a divulgação do Plano. Para Guimarães, a intenção é romper com o silêncio e com essa aceitação que banaliza a violência. Do ponto de vista da Política Nacional de Juventude, os movimentos sociais vêm ao longo dos anos trazendo importantes temáticas, como o enfrentamento à política de extermínio e violência contra jovens negros, ao mesmo tempo que lutam por mais participação dos negros dentro das universidades e espaços públicos.

Para a Secretaria Nacional da Juventude as expectativas com o lançamento do Plano Nacional são grandes. É importante que as políticas e medidas sociais de enfrentamento da vitimização juvenil ganhem espaço, na mídia e nos planos políticos, somando forças à carta compromisso criada pelo Conen. Para o Conjune, a esperança é que um Plano político que nasça sob o signo da participação social tenha, no centro de suas ações, mais força e coragem para romper estruturas sociais que alimentam discursos de ódio e ações de violência no cotidiano.
 
Link: http://www.meionorte.com/edilsonnascimento/violencia-contra-jovens-negros-em-pauta-224314.html

Projeto de lei prevê fiscalização e punição para o repasse indevido de dados cadastrais de clientes pelas empresas ELIANE OLIVEIRA eliane@bsb.oglobo.com.br CRISTIANE BONFANTI cristiane.bonfanti@bsb.oglobo.com.br -BRASÍLIA- O governo federal quer coibir o compartilhamento de informações pessoais de clientes por empresas sem autorização prévia dos titulares dos dados. Um projeto de lei proibindo o repasse de números telefônicos, documentos como o CPF e endereços sem a autorização do usuário deve ser encaminhado ao Congresso ainda em 2012. A informação é da secretária Nacional do Consumidor, Juliana Pereira. Ao GLOBO, ela destacou que, apesar do elevado volume de denúncias e reclamações que chegam diariamente aos Procons, não há um órgão que fiscalize e puna o vazamento de informações que chegam às pessoas em forma de ligações, cartas ou e-mails. O projeto que regulamenta o fluxo de dados pessoais entre empresas no Brasil está em fase de finalização no Ministério da Justiça e seguirá em breve para análise da Casa Civil. Segundo Juliana Pereira, com a iniciativa o governo pretende coibir uma prática cada vez mais comum e que tem provocado dor de cabeça nos consumidores. NO G-20, SÓ BRASIL NÃO TEM PROTEÇÃO No marco legal, haverá um capítulo para sanções, incluindo multas para as empresas e suspensão imediata do uso das informações. A secretária afirmou que, na Alemanha, esse controle existe há 40 anos. No G-20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo), acrescentou, apenas o Brasil não tem proteção de dados pessoais: - Há um fluxo indiscriminado de informações que nos preocupa bastante, porque, na sociedade da informação, um dado diz quem você é. E a titularidade do dado é sua. Como alguém usa sem o seu consentimento? Juliana ressaltou que, muitas vezes, o país deixa de exportar um serviço, porque não pode oferecer essa garantia: - Essa é uma demanda que atende ao cidadão e ao mercado. A medida protege o consumidor, mas é interessante também para o mercado. Hoje, o consumidor pode fazer a denúncia do uso indevido dos dados pessoais. No entanto, a investigação é feita com base na Constituição, no que diz respeito à proteção da privacidade, não em uma norma específica. Devido à falta de controle, nem mesmo os Procons têm uma classificação que permita a construção de um banco de dados sobre as queixas dos consumidores que tiveram seus dados pessoais usados de forma indevida. SP JÁ BLOQUEIA TELEMARKETING A aposentada Maiara Goulart conta que é assediada a cada seis meses por várias empresas que vendem filtro. Mesmo tendo contratado uma única firma, quando chega a época de trocar a vela, o telefone de sua casa não para. - Não dei meu telefone para ninguém e, mesmo assim, empresas que eu sequer conheço não param de telefonar. Isso irrita e incomoda bastante - reclama Maiara. Há cerca de mês, o funcionário público Renilson Tomaz comprou um apar- tamento. Mas até hoje, conta, é procurado por corretores de imóveis: - Fiz o cadastro numa empresa, mas corretores de outras empresas ficam me telefonando. Respondo que já comprei o imóvel, e eles ainda perguntam quanto custou e em que condições. Com base em uma lei estadual, desde 2009 o Procon-SP tem um sistema de bloqueio de ligações de telemarketing. Os consumidores podem cadastrar números de telefones fixos ou móveis e escolher se querem ou não receber ligações que oferecem produtos ou serviços. Num prazo de 30 dias após a inscrição, eles só podem receber ligações de entidades filantrópicas e de empresas que tenham sua autorização por escrito. Ao todo, 918,6 mil telefones já foram cadastrados. Na avaliação de especialistas, embora a opção não tenha, necessariamente, a ver com o fluxo de informações pessoais, o volume de inscrições revela o incômodo dos brasileiros com o uso de seus dados. Para Carlos Édison Monteiro, diretor Jurídico do Procon do Rio, a lei vai conscientizar a população a respeito de seus direitos, a exemplo do pa pel cumprido pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC): - Antes, não se falava tanto em direitos do consumidor. Esse problema de uso de dados é recente, e um marco legal será essencial para levar as pessoas a pensarem, a tomarem cuidado com seus dados e com sua privacidade. Para o ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Ruy Coutinho do Nascimento, a situação se agravou ainda mais com o surgimento das redes sociais. Em sua opinião, uma legislação deve ser preparada o quanto antes, para impedir o vazamento de dados: - As pessoas precisam ter cuidado com o que escrevem nas redes sociais. Na avaliação de Maria Inês Dolci, coordenadora Institucional da Proteste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a criação de uma lei não vai garantir o respeito ao consumidor. A seu ver, em primeiro lugar as empresas precisam pôr em dia as boas práticas comerciais. Entre elas, não ligar para as pessoas fora do horário comercial e respeitar quando elas pedem que seu no- me seja retirado do cadastro. Maria Inês lembrou que, ao receber um telefonema, o consumidor tem o direito de saber em que lista o operador de telemarketing teve acesso a seus contatos. Disse ainda que, quando um cliente preenche uma ficha de crediário, deve informar se autoriza que seus dados constem de uma lista que, muitas vezes, é vendida pelas grandes empresas. - Nem tudo o que vira lei é cumprido. Temos muitas normas que não são obedecidas. Já existem boas práticas, temos o Código de Defesa do Consumidor. O que é preciso é fazer com que essas regras sejam aplicadas de forma adequada - destacou Maria Inês. Juliana Pereira, por sua vez, ressaltou que, desde que a Constituição foi promulgada, em 1988, a sociedade mudou muito e virou um "mundo da informação" Nesse novo contexto, disse ela, o . governo estuda tratar também de forma específica o comércio eletrônico na atualização do CDC: - Até há pouco tempo, o comércio eletrônico era mais simples. Agora, tem compra coletiva. A velocidade do mundo virtual é muito grande - observou a secretária Nacional do Consumidor. Inês lembrou que, ao receber um telonema, o consumidor tem o direito de saber em que lista o operador de telemarketing teve acesso a seus contatos. Disse ainda que, quando um cliente preenche uma ficha de crediário, deve informar se autoriza que seus dados constem de uma lista que, muitas vezes, é vendida pelas grandes empresas. - Nem tudo o que vira lei é cumprido. Temos muitas normas que não são obedecidas. Já existem boas práticas, temos o Código de Defesa do Consumidor. O que é preciso é fazer com que essas regras sejam aplicadas de forma adequada - destacou Maria Inês. Juliana Pereira, por sua vez, ressaltou que, desde que a Constituição foi promulgada, em 1988, a sociedade mudou muito e virou um "mundo da informação" Nesse novo contexto, disse ela, o . governo estuda tratar também de forma específica o comércio eletrônico na atualização do CDC: - Até há pouco tempo, o comércio eletrônico era mais simples. Agora, tem compra coletiva. A velocidade do mundo virtual é muito grande - observou a secretária Nacional do Consumidor.

Projeto de lei prevê fiscalização e punição para o repasse indevido de dados cadastrais de clientes pelas empresas

ELIANE OLIVEIRA eliane@bsb.oglobo.com.br CRISTIANE BONFANTI cristiane.bonfanti@bsb.oglobo.com.br, 30/09/2012

-BRASÍLIA- O governo federal quer coibir o compartilhamento de informações pessoais de clientes por empresas sem autorização prévia dos titulares dos dados. Um projeto de lei proibindo o repasse de números telefônicos, documentos como o CPF e endereços sem a autorização do usuário deve ser encaminhado ao Congresso ainda em 2012.
A informação é da secretária Nacional do Consumidor, Juliana Pereira. Ao GLOBO, ela destacou que, apesar do elevado volume de denúncias e reclamações que chegam diariamente aos Procons, não há um órgão que fiscalize e puna o vazamento de informações que chegam às pessoas em forma de ligações, cartas ou e-mails.
O projeto que regulamenta o fluxo de dados pessoais entre empresas no Brasil está em fase de finalização no Ministério da Justiça e seguirá em breve para análise da Casa Civil. Segundo Juliana Pereira, com a iniciativa o governo pretende coibir uma prática cada vez mais comum e que tem provocado dor de cabeça nos consumidores.
NO G-20, SÓ BRASIL NÃO TEM PROTEÇÃO No marco legal, haverá um capítulo para sanções, incluindo multas para as empresas e suspensão imediata do uso das informações. A secretária afirmou que, na Alemanha, esse controle existe há 40 anos. No G-20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo), acrescentou, apenas o Brasil não tem proteção de dados pessoais: - Há um fluxo indiscriminado de informações que nos preocupa bastante, porque, na sociedade da informação, um dado diz quem você é. E a titularidade do dado é sua. Como alguém usa sem o seu consentimento? Juliana ressaltou que, muitas vezes, o país deixa de exportar um serviço, porque não pode oferecer essa garantia: - Essa é uma demanda que atende ao cidadão e ao mercado. A medida protege o consumidor, mas é interessante também para o mercado.
Hoje, o consumidor pode fazer a denúncia do uso indevido dos dados pessoais. No entanto, a investigação é feita com base na Constituição, no que diz respeito à proteção da privacidade, não em uma norma específica. Devido à falta de controle, nem mesmo os Procons têm uma classificação que permita a construção de um banco de dados sobre as queixas dos consumidores que tiveram seus dados pessoais usados de forma indevida.
SP JÁ BLOQUEIA TELEMARKETING A aposentada Maiara Goulart conta que é assediada a cada seis meses por várias empresas que vendem filtro.
Mesmo tendo contratado uma única firma, quando chega a época de trocar a vela, o telefone de sua casa não para.
- Não dei meu telefone para ninguém e, mesmo assim, empresas que eu sequer conheço não param de telefonar. Isso irrita e incomoda bastante - reclama Maiara.
Há cerca de mês, o funcionário público Renilson Tomaz comprou um apar- tamento. Mas até hoje, conta, é procurado por corretores de imóveis: - Fiz o cadastro numa empresa, mas corretores de outras empresas ficam me telefonando. Respondo que já comprei o imóvel, e eles ainda perguntam quanto custou e em que condições.
Com base em uma lei estadual, desde 2009 o Procon-SP tem um sistema de bloqueio de ligações de telemarketing.
Os consumidores podem cadastrar números de telefones fixos ou móveis e escolher se querem ou não receber ligações que oferecem produtos ou serviços. Num prazo de 30 dias após a inscrição, eles só podem receber ligações de entidades filantrópicas e de empresas que tenham sua autorização por escrito. Ao todo, 918,6 mil telefones já foram cadastrados.
Na avaliação de especialistas, embora a opção não tenha, necessariamente, a ver com o fluxo de informações pessoais, o volume de inscrições revela o incômodo dos brasileiros com o uso de seus dados. Para Carlos Édison Monteiro, diretor Jurídico do Procon do Rio, a lei vai conscientizar a população a respeito de seus direitos, a exemplo do pa pel cumprido pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC): - Antes, não se falava tanto em direitos do consumidor. Esse problema de uso de dados é recente, e um marco legal será essencial para levar as pessoas a pensarem, a tomarem cuidado com seus dados e com sua privacidade.
Para o ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Ruy Coutinho do Nascimento, a situação se agravou ainda mais com o surgimento das redes sociais. Em sua opinião, uma legislação deve ser preparada o quanto antes, para impedir o vazamento de dados: - As pessoas precisam ter cuidado com o que escrevem nas redes sociais.
Na avaliação de Maria Inês Dolci, coordenadora Institucional da Proteste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a criação de uma lei não vai garantir o respeito ao consumidor. A seu ver, em primeiro lugar as empresas precisam pôr em dia as boas práticas comerciais. Entre elas, não ligar para as pessoas fora do horário comercial e respeitar quando elas pedem que seu no- me seja retirado do cadastro. Maria Inês lembrou que, ao receber um telefonema, o consumidor tem o direito de saber em que lista o operador de telemarketing teve acesso a seus contatos.
Disse ainda que, quando um cliente preenche uma ficha de crediário, deve informar se autoriza que seus dados constem de uma lista que, muitas vezes, é vendida pelas grandes empresas.
- Nem tudo o que vira lei é cumprido. Temos muitas normas que não são obedecidas. Já existem boas práticas, temos o Código de Defesa do Consumidor. O que é preciso é fazer com que essas regras sejam aplicadas de forma adequada - destacou Maria Inês.
Juliana Pereira, por sua vez, ressaltou que, desde que a Constituição foi promulgada, em 1988, a sociedade mudou muito e virou um "mundo da informação" Nesse novo contexto, disse ela, o .
governo estuda tratar também de forma específica o comércio eletrônico na atualização do CDC: - Até há pouco tempo, o comércio eletrônico era mais simples. Agora, tem compra coletiva. A velocidade do mundo virtual é muito grande - observou a secretária Nacional do Consumidor. Inês lembrou que, ao receber um telonema, o consumidor tem o direito de saber em que lista o operador de telemarketing teve acesso a seus contatos.
Disse ainda que, quando um cliente preenche uma ficha de crediário, deve informar se autoriza que seus dados constem de uma lista que, muitas vezes, é vendida pelas grandes empresas.
- Nem tudo o que vira lei é cumprido. Temos muitas normas que não são obedecidas. Já existem boas práticas, temos o Código de Defesa do Consumidor. O que é preciso é fazer com que essas regras sejam aplicadas de forma adequada - destacou Maria Inês.
Juliana Pereira, por sua vez, ressaltou que, desde que a Constituição foi promulgada, em 1988, a sociedade mudou muito e virou um "mundo da informação" Nesse novo contexto, disse ela, o .
governo estuda tratar também de forma específica o comércio eletrônico na atualização do CDC: - Até há pouco tempo, o comércio eletrônico era mais simples. Agora, tem compra coletiva. A velocidade do mundo virtual é muito grande - observou a secretária Nacional do Consumidor.

O crime mudou de endereço

Por que a violência do Rio de Janeiro e de São Paulo migrou para cidades menores. E como aplicar as práticas que deram certo nessas metrópoles

Hudson Corrêa e Marina Navarro Lins, Revista Ëpoca, 30/09/2012

O primeiro shopping center de Porto Velho, aberto há quatro anos, virou a principal opção de compras e lazer na capital de Rondônia. O movimento de carros é tamanho que, além de lotar o estacionamento, os motoristas também disputam vagas nas ruas próximas. Recentemente, os moradores levaram um susto quando a polícia prendeu um flanelinha, que cuidava dos carros do lado de fora. Ele era acusado de cometer estupros. Entre as vítimas está uma jovem atacada ao sair do shopping. Em Belém, o empresário Rodrigo Silva Bastos, de 35 anos, dirigia por uma avenida depois de sacar no banco R$ 5.600 para pagar seus funcionários. Seu Citroën C4 Picasso foi interceptado por dois homens numa moto. Rodrigo levou três tiros. Virou mais uma vítima de latrocínio, roubo seguido de morte, o to na capital do Pará. Em Maceió, capital de Alagoas, os moradores passaram a conviver com helicópteros da Força Nacional de Segurança. A cidade lidera o ranking de capitais em homicídios por habitante.
Não são casos isolados. A geografia da violência mudou no Brasil, como mostra um levantamento feito por ÉPOCA (leia a íntegra em época.com.br). Rio de Janeiro e São Paulo, historicamente as capitais nacionais da insegurança, não lideram mais os rankings de homicídios ou de delitos como estupro, latrocínio a assalto à mão armada. A taxa de assassinatos caiu pela metade no Sudeste, entre 2000 e 2010. Em contrapartida, a incidência desse tipo de crime cresceu 70% no Nordeste e dobrou no Norte. A piora no Norte e Nordeste ofuscou a melhora do Sudeste. Com isso, o país manteve sua média de homicídios no mesmo nível de 2000. São 26 mortes por 100 mil habitantes, índice típico de países em guerra. Segundo o Mapa da Violência, 192.500 brasileiros foram assassinados entre 2004 e 2007. No mesmo período, 169.500 civis e soldados foram mortos, em combate, nos 12 conflitos mais sangrentos do mundo.
A epidemia de violência está migrando no Brasil. Isso ocorre de duas formas. Primeiro, das capitais para o interior dos Estados. A Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais diz que a taxa de homicídios em Belo Horizonte caiu 33% nos últimos oito anos. No mesmo período, em Uberlândia, 550 quilômetros distante, ela cresceu 75%. No Estado de São Paulo, Taubaté registra 22 homicídios por 100 mil habitantes - o dobro da capital, afastada 130 quilômetros.
A segunda migração da violência no Brasil é das grandes megalópoles (Rio e São Paulo) para capitais tradicionalmente mais pacatas. São Luís, no Maranhão, era a 24» capital em incidência de assassinatos em 2000. Subiu para a quinta colocação em 2010. No mesmo período, Salvador, na Bahia, passou da 25M posição para a sétima no ranking de violência.
A violência acompanha o deslocamento dos postos de trabalho. Para o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari,(Hoje em FLACSO/CEBELA) a desconcentração industrial provocou a desconcentração da violência."O movimento migratório rumo ao Sudeste se inverteu, e a bandidagem acompanhou", diz ele. No Norte, o registro de crimes acompanhou as frentes de trabalho do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, os casos de estupro em Porto Velho, Rondônia, quintuplicaram entre 2005 e 2010. Será até possível atribuir o salto a uma subnotificação de ocorrências em anos anteriores. Mas o governo federal descarta essa hipótese. Ana Teresa Iamarino, coordenadora da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, atribui o aumento de registros de estupro à migração de mão de obra masculina para a construção da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira. "A população passou de 4 mil para 17 mil naquela região", diz. "É comprovado que esse processo migratório para locais de grandes obras ou eventos contribui para o aumento da violência.
Além da migração populacional, a migração da riqueza guarda relação com a migração da criminalidade."O Nordeste cresceu num ritmo chinês, e a violência foi junto", diz Pedro Abramovay, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretário nacional de Justiça."Com mais dinheiro circulando, o mercado consumidor fica mais aquecido. Inclusive o de drogas."Dário Cesar Cavalcante, secretário de Defesa Social de Alagoas, atribui o recrudescimento da violência em Maceió ao avanço do consumo de crack, droga derivada da cocaína que se espalhou pelos centros urbanos do país. Com o número de usuários de crack, aumentaram os casos de assassinatos por dívidas pequenas, de até R$ 100, geralmente cobradas por traficantes. "A droga era a fagulha que faltava", afirma Cavalcante.
Se Rio de Janeiro e São Paulo conseguiram reduzir os índices historicamente altos de violência, agora podem inspirar soluções para o problema em outras cidades. As duas capitais aumentaram o investimento em segurança pública e implantaram três políticas: combate às drogas, desarmamento da população e ocupação territorial de áreas antes dominadas por quadrilhas.
Em 2000, São Paulo era a quarta capital com a maior taxa de homicídios. Com mais investimentos em efetivo policial e na investigação de crimes, a cidade passou a figurar em último lugar no ranking dos assassinatos registrados no país, com 9,4 mortes por 100 mil. O governo afirma que gastará R$ 13,7 bilhões com segurança neste ano, 15% mais que em 2011. Sexto colocado no ranking de homicídios em 2000, o Rio agora está na 233 posição.
As estratégias para reduzir o crime em São Paulo e no Rio começaram com o combate às drogas. Neste ano, em São Paulo, além da prisão de 556 acusados de tráfico, o governo internou 1.075 viciados. "O maior controle de uso de substâncias ilícitas tem sido uma característica das capitais que reduziram a incidência de assassinatos", diz Daniel Cerqueira, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) especializado em estudos sobre violência.
Em seguida, veio a retomada de áreas dominadas pelo crime organizado. Em 2008, o governo do Estado do Rio mudou sua forma de combater traficantes de drogas e milicianos em favelas. Trocou os ataques policiais surpresa, com troca de tiros, pela ocupação anunciada, pacífica e permanente. É o modelo de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Segundo o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as UPPs reduziram em 78% as taxas de homicídios nas comunidades. A pesquisa estima que 250 assassinatos foram evitados desde 2008.
É verdade que a estratégia de ocupação territorial da polícia tem efeitos colaterais. A pacificação das favelas do Rio levou ao aumento da violência em cidades vizinhas, da Baixada Fluminense. A ocupação de um polo de venda e consumo de drogas no centro de São Paulo, conhecido como Cracolândia, fez o tráfico migrar para hotéis e prédios residenciais nos arredores. Mas, apesar de péssima para os moradores, a migração do tráfico para dentro de apartamentos é considerada uma das causas da redução na violência em Nova York, nos Estados Unidos."Os mercados ao ar livre de entorpecentes são áreas de conflito, pontos quentes de violência" afirma Franklin Zimring, professor de criminologia na Universidade da Califórnia em Berkeley. "Tirar o comércio do tráfico das ruas fez o índice de assassinatos relacionados a drogas cair mais de 90%, entre 1990 e 2009.
O sucesso da campanha de desarmamento em São Paulo também tem relação direta com a queda na morte de menores de 19 anos. A taxa de homicídios de jovens no Estado caiu 76,1%, entre 2000 e 2010, ante um aumento de 15,8% na média nacional. "São Paulo teve sucesso na aplicação da Lei Seca e foi o Estado que mais reduziu o número de armas de fogo", afirma Cerqueira. "Em Alagoas, o Estado com a maior taxa de homicídios, a prevalência de armas aumentou." O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirma que o principal problema de segurança no Estado é a grande quantidade de fuzis nas mãos de bandidos.
Seguindo fórmulas de combate à criminalidade adotadas por Rio e São Paulo, o governo federal lançou em junho o programa Brasil Mais Seguro. As ações começam por Alagoas. Há muito trabalho a fazer por lá. Constatou-se que 97% dos laudos de perícia, indispensáveis à investigação de assassinatos, estavam pendentes. Havia ainda 3 mil mandados de prisão a cumprir.
A migração da criminalidade para o interior do país não significa que a guerra esteja ganha nas metrópoles. Na semana passada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgou um balanço que mostra que o número de pessoas assassinadas aumentou 17% de janeiro a agosto de 2012, em relação ao mesmo período do ano passado. O número de mortos pela Rota, tropa de elite da polícia paulista, cresceu 20%. O comandante da Rota, tenente-coronel Nivaldo César Restivo, perdeu o cargo. O crescimento nos indicadores, por ora, não significa que a capital viverá uma nova epidemia de violência. Mas serve para alertar que essa doença não tem cura. A qualquer vacilo, ela recrudesce.
Com Maurício Meireles

Ensino bom é para todos

Cinco cidades brasileiras oferecem educação de qualidade em todas as escolas da rede publica. Como elas conseguem?


Camila Guimarães, Revista Epoca. 30/9/2012

A mãe de Pedro Velena, de 10 anos, esperou dois anos por uma vaga na escola que ela considera a melhor da cidade. Sertãozinho, no interior de São Paulo, tem 17 escolas do 1° ao 5° ano. A mais famosa delas é a Professor José Negri, de onde saem medalhistas em olimpíadas de matemática, física e astronomia. Desde 2006, foram 87. Para Pedro, que diz adorar aulas de matemática e que quer ser engenheiro civil quando crescer, a escolha de sua mãe pela José Negri foi natural.
"Minha mãe é muito exigente. Nove e meio para ela é pouco", diz Pedro. Se ele tivesse sido matriculado em qualquer uma das outras escolas da cidade, também teria boas chances de tirar notas altas. Mais importante que isso: teria garantido seu direito de aprender.
Sertãozinho faz parte de um seleto grupo de cidades brasileiras que conseguem oferecer educação pública de qualidade com equidade entre as escolas. A distância entre a melhor e a pior escola nesses municípios é pequena. Mesmo a pior escola ensina, no mínimo, as habilidades básicas de português e matemática para os primeiros anos do ensino fundamental. Essa característica garante um dos princípios essenciais de uma sociedade civilizada, onde todos recebem oportunidades para aproveitar seus talentos individuais e se desenvolver.
A pedido de ÉPOCA, Ernesto Martins, coordenador de projetos da Fundação Lemann, analisou os resultados da Prova Brasil de 2011, que avalia as habilidades e competências em português e matemática. Ele considerou o desempenho dos alunos do la ao 59 ano, séries quase totalmente de responsabilidade municipal. Usou como referência do nível de aprendizado básico os critérios elaborados pelo movimento Todos Pela Educação. Apenas cinco, num total de 929 cidades, têm 100% das escolas com nota média igual ou superior à recomendada. São elas: Sertãozinho e Lençóis Paulista, ambas em São Paulo, Foz do Iguaçu, no Paraná, São Lourenço, em Minas Gerais, e Sobral, no Ceará. O mesmo estudo foi feito para os resultados do 99 ano, o último do ensino fundamental. Nenhum município (nem os cinco acima) conseguiu garantir médias ideais para todas as escolas.
O indicador mais importante de qualidade de uma rede pública é os alunos terminarem a escola sabendo o que deveriam. Isso é raro no Brasil. Um estudo da Unesco com a Universidade Federal de Minas Gerais mostrou que, em 2009, 22% dos alunos das escolas públicas do Brasil concluíram o ensino fundamental sem habilidades básicas de leitura. E 39% sem conhecimentos essenciais de matemática.
É verdade que o país avançou. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que desde 2005 avalia o ensino público, mostra alguma melhora na média nacional. Ele é calculado levando em conta as médias da Prova Brasil e a taxa de aprovação dos alunos. Por trás dessa aparente melhora, porém, persiste uma grande disparidade regional, mesmo dentro dos municípios. Tão importante quanto conseguir uma boa média nacional é ensinar habilidades de leitura e matemática a todos os alunos, sem se importar com seu perfil socioeconômico. "Não existe qualidade sem equidade", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação.
Garantir esse padrão mínimo de qualidade não é fácil. Basta olhar os resultados do Ideb. Alguns exemplos: a média do Ideb (do 52 ano) do Estado mais bem colocado, Minas Gerais, é 5,8 (a escala é de 0 a 10). A do pior, Alagoas, é 3,5. Entre municípios, a disparidade é ainda maior. Claraval, em Minas, tirou 8,3. Monteirópolis, em Alagoas, 2,5. "A equidade é hoje o maior desafio da educação brasileira", diz Cleuza Repulho, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação. "Para os municípios, é um esforço gigantesco.
As cinco cidades que conseguiram esse padrão de qualidade para todos oferecem boas lições para o país. Os caminhos são particulares de cada localidade, mas é possível identificar características ou estratégias comuns:
1 - MANTER A POLITICA LONGE DA SALA DE AULA
Há uma condição comum a esses cinco mumcipios, um item fundamental para que as reformas escolares se tornem viáveis: continuidade na política de educação. Como, nessa área, os resultados demoram anos para aparecer, é preciso tempo para identificar as falhas e corrigi-las. A mudança no comando municipal é mais rápida e, muitas vezes, interrompe a melhora. É a velha história: muda o prefeito, muda o secretário, muda a ideologia, e o que foi feito pelos anteriores é desfeito para começar tudo do zero. E comum isso acontecer até mesmo entre executivos do mesmo partido. Nesse vaivém dos gabinetes, os mais prejudicados são os alunos.
Em Sertãozinho, a secretária Maria Dirma Francisco, no cargo desde 2001, passou por dois prefeitos em três mandatos. O atual, do PPS, ao perceber que o trabalho feito pela equipe de Dirma dava resultado, continuou o projeto do prefeito anterior, do PSDB (ambos são rivais nestas eleições). "Ele confiou na equipe e deu liberdade para a gente trabalhar" diz ela. Também com 12 anos de atividade, a reforma de Sobral resistiu a três prefeitos e quatro secretários, ainda que do mesmo grupo político, o PSB. Em Lençóis Paulista, a atual prefeita, em seu primeiro mandato, foi secretária municipal entre 2005 e 2009.
Quando a política partidária respeita as necessidades da sala de aula, a solução começa com as indicações para cargo de diretor de escola. O diretor é figura-chave para que todo o plano das secretarias funcione. Uma das primeiras medidas tomadas por Margarida de Luca Alves quando assumiu a Secretaria de São Lourenço, em 2009, foi determinar que os diretores passassem a ser escolhidos pelos integrantes da própria escola."Fiquei assustada com a falta de critérios das escolhas", afirma ela. Em Sobral, os diretores passaram a ser selecionados por mérito também logo no começo das mudanças, em 2001. Quem já era diretor teve de passar pela mesma seleção: uma prova escrita, avaliações comportamentais e entrevistas. Resultado: a rede trocou 75% do total de seus diretores naquele ano - e passou a cobrar mais deles a responsabilidade pela eficácia do ensino em suas escolas.
2 - AVALIAR SEMPRE E ESTABELECER METAS
Os planos de gestão da educação das cinco cidades campeãs de qualidade têm um único objetivo: todos os alunos precisam aprender, não importa sua classe social. Para saber se o plano está dando certo, é preciso acompanhar o desempenho de cada um dos estudantes. As avaliações sistemáticas são adotadas sem receio. As escolas das redes municipais participam das avaliações federais, como o Ideb, das estaduais e ainda têm uma avaliação própria, uma prova aplicada a todos os alunos, de todas as séries dos primeiros anos do ensino fundamental, no mínimo duas vezes por ano.
Como as avaliações são abrangentes e frequentes, seus resultados também servem para mapear os alunos mais atrasados e como eles evoluem ao longo do tempo. A partir daí -- e essa é uma estratégia adotada por todas as escolas de todas as cinco redes -, a recuperação é feita, aluno por aluno, imediatamente. Ninguém espera chegar o final do ano para recuperar o deficit de aprendizagem de uma criança. "É importante que o município olhe com atenção especial para suas piores notas. É aí que ele precisará trabalhar com mais esforço" afirma Romualdo Portela, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), especialista em políticas públicas de ensino.
Em São Lourenço, os alunos são avaliados três vezes por ano. Existe uma categoria de professor exclusiva para cuidar dos estudantes com dificuldades. O professor recuperador trabalha o ano inteiro com o professor regular, no mesmo turno ou no contraturno,sob demanda."Ensino o que o professor principal pede", diz Miriam de Almeida Mota Silva, professora recuperadora da escola Coronel Manoel Dias Ferraz, na periferia da cidade. Miriam é a responsável pela recuperação de Vanessa Lopes Silva, de 10 anos. Ela deveria estar no 62 ano, mas ainda cursa o 4°. Sua principal dificuldade era entender os textos que lê. Com as aulas de Miriam, a menina começa a ganhar mais fluência. "Com ela, consigo aprender o que não entendi na sala de aula", diz Vanessa.
Outro resultado das avaliações é o estabelecimento de metas. Cumprir os objetivos, nesses municípios, é uma obsessão. Em Lençóis Paulista, toda a rede trabalha com metas, do pessoal da cozinha aos alunos. Isso foi determinado em 2005, quando a atual prefeita era secretária de Educação e criou o plano de gestão das escolas. Metas individuais são estabelecidas de acordo com as da escola e da rede. O diagnóstico vem da avaliação municipal, uma prova aplicada em todas as séries do ensino fundamental, três vezes por ano.
Depois de 23 anos de magistério, a professora Fátima Cardim começou a trabalhar com metas. Sua missão neste ano é ensinar textos de diversos gêneros, como fábulas, cartas ou receitas. Os alunos e pais foram informados em março de que precisavam melhorar nesse quesito. A meta dela é ter 100% de sua classe com a habilidade. Na avaliação de março, foi detectado que 18 dos 20 estudantes não dominam os gêneros de escrita. Na segunda avaliação, feita em julho, apenas um aluno continuava com dificuldade. "O bom disso é que todas as pessoas estão envolvidas num único objetivo. Antes, meu trabalho era solitário. 1POLITICAS SOB
3 - MEDIDA PARA CADA ESCOLA
Com os resultados das avaliações, é possível enxergar que escolas apresentam problemas específicos e criar, a partir daí, políticas sob medida. Essa é uma das principais estratégias para garantir a equidade. Há cinco anos, Foz do Iguaçu tinha altas taxas de abandono e reprovação, infladas por determinado grupo de escolas. Localizadas em bairros próximos da margem do Rio Paraná e da Ponte Internacional da Amizade, entre Foz e Ciudad del Este,no Paraguai, essas escolas perdiam seus alunos para quadrilhas de contrabandistas, que aliciam famílias inteiras para fazer a passagem de mercadorias ilegais entre um país e outro.
A partir daí, a secretária Joane Vilela, no cargo desde 2008, criou uma equipe formada por assistentes sociais e psicólogos, que trabalham com as crianças e suas famílias. Ao mesmo tempo, Foz do Iguaçu adotou um programa estadual em que cada escola preenche uma ficha com informações sobre os alunos que sumiram das aulas. Essas fichas os tornam visíveis, e a equipe pode atuar com mais eficácia e acompanhar caso a caso. Com um apoio extra da prefeitura, escolas velhas foram reformadas. Foi também criado um período para receber alunos que precisam realizar atividades fora do horário escolar, o contraturno. A taxa de abandono da rede caiu de 7%, em 2008, para zero, em 2011.
O rendimento dos alunos melhorou. Na Escola Municipal Pedro Viriato Parigot de Souza, numa área onde atuam tanto quadrilhas de contrabandistas como traficantes de drogas, o Ideb passou de 4,2, em 2005, para 7,3, no ano passado. A Escola Municipal Elenice Milhorança, no Jardim América, um dos bairros vizinhos à região da Ponte da Amizade, saiu de 4,1 e chegou a 7 no mesmo período. A estratégia de montar um plano para as escolas mais críticas ajudou a puxar para cima a média de todo o município. Em 2005, o Ideb de Foz do Iguaçu foi de 4,2. A escola com a maior nota tirou 5,3. Em 2011, Foz ficou com 7, e a escola com maior nota tirou 8,6 - a melhor do país.
4 - VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR
Gestão, avaliação, metas, recuperação. Nada disso funciona se, dentro da sala de aula, o professor não está apto e estimulado a ensinar. Ao mesmo tempo que promoviam as mudanças, todos os cinco municípios investiram na remuneração e formação dos mestres. Na remuneração, prevalece a bonificação de acordo com o resultado do desempenho dos alunos. Sobral paga R$ 250 a mais por turma que atinge a meta. Se o professor tem duas turmas, ganha R$ 500. Em São Lourenço, um comitê avalia o professor levando em conta a frequência e a didática em sala de aula. Se ele tira nota igual ou maior que 7, ganha um bônus que pode chegar a 50% do salário. Sertãozinho paga 14° salário para os que têm alta frequência.
A formação dos professores é o fator que mais demanda atenção. Sobral criou uma estrutura em que todo professor do 10 ao 50 ano assiste a aulas sobre como usar o material didático daquele mês. Antes de entrar em sala de aula, eles ainda discutem com os orientadores pedagógicos. Com planos de aula afinados, o aproveitamento do tempo em sala melhorou. Antes, o professor chegava atrasado, gastava tempo organizando a turma ou dispensava os alunos mais cedo, por falta de ideias de atividades. As aulas, que duravam, na prática, duas horas, agora rendem quatro horas, segundo o secretário Julio Alexandre.
Em Sertãozinho, foi criado um cargo novo: assistente pedagógico, para cuidar do aprimoramento dos docentes. Eles saem da cidade em busca de cursos oferecidos por universidades para aprender técnicas didáticas usadas nas aulas. Quando voltam, transmitem o que aprenderam aos coordenadores pedagógicos de cada escola. E estes ensinam aos professores."Antes de fazer o aluno gostar da escola, tive de fazer o professor gostar de dar aula", diz a secretária Maria Dirma.
Com professores bem treinados, essas redes conseguem dar certa autonomia à prática em sala de aula. Os mestres precisam trabalhar com o material didático escolhido pela rede, em muitos casos, desenvolvem técnicas próprias de ensino. Em Foz do Iguaçu, as professoras Leda Márcia Dal Gin e Maria Isabel Gomes Vieira tomaram a iniciativa de dividir a mesma classe, de su ano. Uma ficou com as aulas de português e ciências. A outra, com matemática, geografia e história. "Várias vezes, conversando, percebíamos que tínhamos notado algum problema com um ou outro aluno. Ele não receberia a atenção necessária se uma não tivesse comentado com a outra", diz Leda.
O sucesso desses cinco municípios é, em parte, possível porque eles tinham condições especiais para isso. Trata-se de redes pequenas, com no máximo 51 escolas de anos iniciais. O secretário de Educação e os supervisores conseguem acompanhar pessoalmente as escolas, para controlar e cobrar resultados. Também parece mais fácil para municípios pequenos criar um ambiente em que todos se sentem responsáveis pelo aprendizado do aluno, inclusive as famílias. Sobral recebe apoio técnico e financeiro do Unicef. Apesar de ter médias altas no Ideb, essas cidades não são perfeitas. São Lourenço tem uma alta taxa de defasagem escolar, que aparece como distorção entre a idade e a série do aluno. Um terço das escolas de Lençóis Paulista não alcançou a meta ou teve queda no Ideb em 2011. Todas estão com médias muito baixas nos anos finais (62 ao 9°ano) do ensino fundamental.
Mesmo assim, de alguma forma e com muito esforço, esses cinco municípios encontraram um caminho. Ele tem mais a ver com a gestão da rede que com pedagogia, um dado relevante em tempos de eleições municipais. A receita milagrosa não existe. Essas cidades estão apenas fazendo, com mais eficiência, algo básico para que alunos como Pedro, de Sertãozinho, de classe média, e Vanessa, que estuda na periferia de São Lourenço e tem mãe analfabeta, tenham chances iguais de aprender. Que sirvam de inspiração a outras.
Com Débora Rubin, de Sertãozinho, e Fabiula Wurmeister, de Foz do Iguaçu